CAUSOS
DA BOLEIA - NÃO BRINQUE COM FOGO, ELE NÃO SABE BRINCAR
-
Ei! Você pode me dar uma carona?
Eu já estava subindo no caminhão
quando ouvi uma voz feminina perguntar. Olhei para baixo e a vi. Ela estava com
uma mochila nas costas, sozinha. Olhando de cima para baixo parecia uma
adolescente, dessas que andam em bando. Desci do caminhão e deixei o meu lado
prático resolver a questão.
-
Onde estão os outros?
-
Os outros? Que outros?
-
Vai querer me enganar que está sozinha.
-
Estou mesmo. Não tem ninguém comigo.
-
Você vai pra onde? Por acaso está fugindo de casa?
-
Não, eu vou pra casa do meu tio lá em Cabo Frio.
-
Você mora por aqui?
- Não, vim no carro de uma vizinha que foi pra
Maricá. Ela me deixou aqui no posto pra pegar um ônibus. Aí eu vi você aqui
perto do caminhão e achei que você deve ser legal, pelo menos tem cara. Então
resolvi pedir uma carona, assim economizo o dinheiro da passagem.
-
É. Eu me acho legal – eu disse influenciado pelo meu lado vaidoso.
Mas o meu lado controlado ficou buzinando no
meu ouvido que eu poderia arrumar encrenca, porque ela parecia bem jovem.
-
Vem cá, quantos anos você tem?
-
Dezenove, quase vinte.
- Não parece, tem cara de dezesseis, no máximo
dezessete – quem falou foi o meu lado preocupado. Tem identidade? – Perguntou o
lado prático.
- Claro! – Ela disse abrindo a mochila para
pegar o documento de identidade. Aqui,
ó. Nasci em oito de fevereiro de mil novecentos e noventa e cinco e o meu nome
é Lorraine.
“Ela é maior mesmo, cara, leva logo, é um
taquinho” – o meu lado predador ficou cochichando ao meu ouvido. “Acho melhor,
não” – aconselhou o meu lado preocupado. “E se a identidade for da irmã dela?
“Ah, sai dessa cara! Manda ela subir logo – disse o meu lado predador. Ela tem
um corpinho bem feitinho.” “Bem feitinho, não, bem criadinho” – interferiu o
meu lado garanhão que logo ficou interessado depois que viu a identidade. “A natureza caprichou. Deixa ela comigo que
eu tomo conta”.
- Eu sou magrinha assim mesmo. Tenho medo de
engordar e virar uma baleia. Já pensou não poder usar biquíni, mergulhar na
piscina...
- Você gosta de piscina? – Perguntou o meu lado
pegador imaginando a garota com um biquíni minúsculo, mostrando a bundinha
empinada que ela tem - via-se perfeitamente pela roupa que ela estava usando.
Essas garotas sabem como deixar um homem
babando, ainda mais com um corpinho daqueles, que a camiseta cavada e o
shortinho pouco escondiam. Estava mostrando um pedaço, melhor, dois pedacinhos
de cada nádega, cujo shortinho amarelo bem curtinho deixava ver.
- Huuuummmm, adoro piscina e praia! Acho que
fui peixe na outra encarnação – ela disse rindo.
“Deve ter sido uma sereia e ter deixado muito
boto babando” - pensou o meu lado poético.
“Sai dessa, cara! Mané boto... Vou dar logo é um bote – disse o meu lado
pegador. Afinal a gente já está há quase
quinze dias sem descarregar a tensão, porque
só passamos em casa pra trocar de roupa e a Tati estava trabalhando.
Pior que ainda vamos ficar um tempão sem, até voltarmos só porque vocês não
estão querendo trair a Tati. Vocês se lembram que com ela foi a mesma coisa? Se
não fosse por mim, ela não estava com a gente. Além do mais, sei muito bem que
a gente sempre gostou de dar uma variadinha de vez em quando, afinal a vida nos
acostumou assim e fica difícil largar. É um vício.”
“A conversa está se estendendo muito. A garota
está esperando a gente decidir. Vamos lá, senão vai atrasar a viagem” –
disseram todos os meus lados interessados na garota, quase todos. Então, o meu
lado garanhão abriu a porta e do carona e ajudou a gata a subir.
Já estávamos chegando a Cabo Frio, então eu
perguntei:
- Você sabe em que lugar de Cabo Frio fica a
casa do seu tio?
- É na estrada que vai pra Búzios, depois que
atravessa aquela ponte do canal.
- Você não sabe o endereço?
- Não. Acho que quando chegar perto eu vou
saber.
Já tínhamos nos afastado do centro de Cabo Frio
e percebi que ela estava perdida.
- Lorraine, você sabe mesmo onde é a casa do
seu tio?
- Não consegui saber onde é. Tinha uma árvore
grande na esquina da rua, mas eu não vi, acho que tiraram a árvore.
- Você não tem o telefone dele?
- Tenho o número da minha tia, mas estou sem
crédito.
- Então liga do meu. Pega aí no portaluvas.
Ela pegou o telefone e ligou várias vezes.
- Tá fora de área ou desligado.
- A sua mãe não tem o endereço dele? Liga pra
ela.
- Não sei se ela tem o endereço dele, mas
também não quero ligar pra ela. Pra falar a verdade, eu briguei com ela e saí
de casa. Ah, cansei! Minha mãe e meu namorado vivem me enchendo o saco. Decidi
aproveitar as minhas férias e não quero saber de nada, vou dar um tempo. Pô, eu
trabalho pra ajudar em casa e comprar as minhas coisas e ela vive me
azucrinando a paciência, caraca! Vive dizendo que eu gasto muito com telefone,
que fico um tempão no chuveiro e por isso a conta de luz vem muito alta, que eu
não sei quanto custam as coisas no mercado. Até parece que só eu faço isso. Ela
dorme no ar condicionado toda noite porque diz que sente muito calor. Queria
saber por que ela ultimamente vive pegando no meu pé.
O meu lado predador pensou: “Até que ela fica
bonitinha assim de carinha emburrada.” E ela continuou a desabafar:
- Sabe o que eu fiz? Peguei quase todo o
dinheiro das minhas férias, que também não é muito, e dei pra ela. Como o meu
namorado está desempregado e, pelo que eu vejo não está muito disposto a
procurar trabalho, a gente fica sem dinheiro pra sair... Quer saber? Cansei!
Resolvi vir pra casa do meu tio e dar um tempo, pelo menos até acabarem as
minhas férias, não quero saber de nada. Peguei carona com a minha visinha que
vinha pra Maricá e ela me deixou lá em Itaboraí pra pegar um ônibus. Aí vi você
no posto e achei que tinha cara de legal, então, resolvi arriscar.
- Essa parte você já falou... Acho melhor a gente voltar pra Cabo Frio pra
ver se você encontra o lugar onde fica a casa do seu tio.
- Búzios é perto daqui?
- É. Logo adiante.
- Você acredita que eu não conheço Búzios? Me
leva até lá? Eu ouço tanto falar em Búzios que tenho curiosidade em conhecer.
Dizem que fica cheia de turistas estrangeiros e que é muito bonita e
afrodisíaca, paradisíaca, sei lá...
- Deve ser paradisíaca.
- É. Paradisíaca, vem de paraíso, eu acho...
- Como é que você vai fazer pra voltar depois,
se não sabe onde é a casa do seu tio?
- Eu dou um jeito. Ou então volto pra casa de
ônibus e fico aturando a minha mãe azucrinando as minhas ideias até acabarem as
minhas férias.
- Então tá. Vou te levar a Búzios.
- Você conhece muitos lugares?
- O Brasil quase todo.
- E a sua mulher?
- Eu não sou casado. Já fui. Agora tenho uma
namorada que mora comigo. A gente tem um acordo pra ela não ficar me cobrando
nada, porque eu fico muito tempo fora por causa desse meu trabalho.
- É aquela da foto ali no portaluvas?
- É.
- Qual o nome dela?
- Tatiana.
- Podia ser minha mãe – ela disse com um
sorrisinho no rosto.
- Tua mãe?! Nunca. Ela é uma balzaquiana linda!
- Balzaquiana? O que é isso?
- Uma mulher na faixa dos trinta anos.
Ela pegou o portaretratos, olhou para a foto,
contornou com um dedo o rosto da Tatiana e depois pôs de volta no portaluvas.
- Deve ser legal essa sua vida... Conhecer um
monte de lugares diferentes.
- Mas é meu trabalho. Às vezes, é muito
cansativo e não dá tempo pra conhecer nada direito. Viajar é bom quando a gente
está fazendo turismo.
- Tem um lugar que eu sou louca pra conhecer.
- Qual?
- Porto de Galinhas.
- Eu vou passar perto de lá. Estou indo pra
Recife.
- Caraca! Deixa eu ir contigo? Ajuda a realizar
meu sonho, vai...
- Pra Porto de Galinhas?
- Não. Você me levaria contigo nessa viagem?
Poxa vida, seria o máximo!
- Huuumm, não sei não. Você é muito nova pra
andar comigo por aí...
- Eu não te mostrei a minha identidade? Tenho
dezenove anos, trabalho e sou dona do meu nariz. Estou de férias e queria
aproveitar. Existe melhor maneira do que essa?
- Então, já que você quer tanto ir, vamos. Mas
acho que você não vai aguentar. Vai ter que dormir comigo aqui na boleia, tomar
banho onde der e até de balde, no mato.
- Eu não tinha pensado nisso, mas
acho que seria uma aventura legal. Emocionante, passar as férias viajando na
boleia de um caminhão... Eu topo! Que legal! – Disse ela batendo palmas,
eufórica. Minhas amigas vão ficar babando quando eu contar.
- E a sua mãe? Ela não vai ficar
preocupada quando souber que você não chegou na casa do seu tio?
- Caraca, é mesmo! Já sei. Vou dizer
que encontrei uma colega do trabalho que também está de férias em Cabo Frio e
vou ficar na casa dela, pelo menos eu tenho com quem sair. Quando a gente
chegar a Búzios eu vou botar crédito no meu telefone e ligar pra ela.
- Então não vamos ficar lá por muito
tempo, tá? Você resolve o seu problema com a sua mãe enquanto eu tomo um café e
depois a gente segue pra não atrasar a viagem. Na volta, se der, a gente fica
mais um pouquinho.
- Tá. Dá tempo pra, pelo menos pra
fazer xixi?
- Dá. Eu também vou fazer.
- É aqui atrás do banco que nós
vamos dormir? – Ela puxou a cortinar para olhar – Parece que só dá pra um, mas
apertando dá. Você quer que eu vá?
- Pra mim seria até bom. Teria
companhia, além de uma mulher dormindo comigo toda noite – eu disse sorrindo,
incentivado pelo meu lado sonhador, com o apoio eufórico de todos os outros.
Em Búzios, tivemos que ir ao centro da cidade
para ela comprar os créditos para o celular. Depois ela me pediu para ver se a
praia é bonita como dizem.
- Tá bom. Mas não vamos demorar. Eu disse.
“Deixa de ser bobo, Rui. Uma gatinha dessas tem
mais é que agradar, pra depois ganhar a recompensa” – disse o meu lado
garanhão.
Andamos pela Rua das Pedras até a Orla Bardot e
ela ficou encantada com o monte de barquinhos de pesca no mar azul, com o
monumento aos pescadores a estátua de Brigitte Bardot, que ela disse nunca ter
ouvido falar, mas que deveria ser muito bonita e importante para terem feito
uma estátua dela.
- Agora vamos embora - Eu falei.
Todos os meus lados me olharam de cara feia.
Estavam todos em volta dela, debruçada no guarda corpo do deck de madeira.
- Vamos. Obrigada por me trazer aqui. Você é um
amor.
Almoçamos em Campos e depois só paramos em
Serra, no Espírito Santo, para dormir. Estacionei num posto na estrada, fizemos
um lanche e deitamos. Ficamos de costas um para o outro e ela logo pegou no
sono. Acordei pela manhã com uma de suas pernas por cima de mim. Levantei e ela
não acordou. Acho que estava sonhando, porque estava sorrindo. Saí do caminhão
e fui ao banheiro e depois tomei café no bar do posto. Comprei café com leite e
pão com manteiga e levei para ela. Tive que acordá-la, pois ainda estava
dormindo.
- Bom dia. Trouxe café pra mim? Que legal!
- Bom dia. Dormiu bem?
- Acho que sim. Dormi direto. Eu tenho que
escovar os dentes antes de comer e também estou apertada pra fazer xixi.
- Então vai. É ali naquela porta.
Ela voltou e comeu o desjejum com satisfação.
- Eu queria tomar banho. Estou com a mesma
roupa desde ontem.
- Aqui no posto não tem chuveiro, mas podemos
parar na rodoviária, tomamos banho e depois seguimos a viagem.
Depois do banho, peguei a estrada e só paramos
em Teixeira de Freitas, já na Bahia, para almoçar. Ela dormiu grande parte da
viagem, com todos os meus lados embalando o seu sono, de vez em quando ela
acordava e ficava mexendo no celular, interessava-se por alguma coisa na
paisagem e tirava fotos. Fez um monte de selfies, inclusive estou em vários
deles, alguns dos meus lados em todos, fazendo gracinha. Demos uma parada em
Itabuna para descansar, fazer um lanche e ir ao banheiro. Já era noite quando
ela perguntou onde estávamos.
- Estamos em Feira de Santana. Vou parar num
posto pra dormirmos.
- Lá tem banheiro? Estou apertada e queria
tomar banho.
- Deve ter, a maioria dos postos na estrada,
principalmente os das grandes bandeiras, está construindo banheiros e
restaurantes para atender aos caminhoneiros e ônibus de viagem.
Parei num posto onde havia alguns caminhões
estacionados.
- Acho que este está ótimo.
- Vou fazer xixi e tomar banho. Você fica lá na
porta vigiando pra mim? Eu tenho medo.
- Tá bem. Eu vou ficar na porta vigiando.
Depois que lanchamos, eu a deixei no
restaurante e fui tomar banho, também. Ela preferiu escovar os dentes perto do
caminhão. Deitamos na cama da boleia e ela disse:
- Rui, você é o cara mais legal que eu conheci
até hoje. Estou adorando estas férias.
Pôs uma das mãos sobre o meu peito e
encostou-se em mim. O meu lado pegador estava pedindo para ela aproximar mais o
corpo do meu e eu tentando afastar os pensamentos do que estava acontecendo
para resistir à tentação, até que ela pegou no sono e, para meu desespero, pôs
uma perna sobre a minha.
Já estava amanhecendo quando ela falou junto ao
meu ouvido: “Ah, para, Yasmim! Nós não fizemos nada ainda.” Cheguei a ficar
arrepiado e estremecer com o sopro morno que saiu de sua boca em direção ao meu
ouvido, porque ela estava com o rosto colado ao meu, quando ela falou. Olhei
para ela e vi que estava dormindo, estava sorrindo durante o sonho. Reparei,
então, que ela estava só de camiseta e calcinha. A perna dela estava sobre a
minha barriga, fazendo com que a camiseta levantasse, deixando à mostra parte
de seu jovem e belo corpo.
Tirei, devagar, a perna dela de cima de mim,
levantei e saí do caminhão. “Que situação, hein!” – Pensei. Todos os meus lados
começaram a dar suas opiniões a respeito e resolvemos seguir a ideia do lado
prático que sugeriu deixar a coisa acontecer, segurar os instintos, e esperar
se iria rolar alguma coisa naturalmente.
Saímos de Feira de Santana bem cedo e ela ainda
estava dormindo. Comprei um lanche para ela comer quando acordasse, pois
pretendia chegar naquele dia a Recife.
Quando ela acordou, já havia rodado cerca de
duas horas.
- Ué, Rui! Já estamos na estrada?
- Há muito tempo. Você estava dormindo tão bem,
com a cama inteira pra você, então eu não quis te acordar. Tem um lanche aqui
que eu comprei pra você.
- Mas eu não consigo comer nada pela manhã sem
escovar os dentes.
- Eu vou parar no acostamento e você escova os
dentes, eu tenho água pra isso.
-Eu também quero fazer xixi.
- Vai ter que ser aqui mesmo. Fica agachada
atrás da roda. Ninguém vai notar. Não tem muito carro na estrada e só tem mato.
- Tudo bem. Só quero que você segure o papel
higiênico.
Ela resolveu o problema com desembaraço, com
todos os meus lados, tão solícitos, segurando o rolo de papel que até
esqueceram-se de observar a estrada e logo seguimos a viagem.
Paramos para almoçar em Nossa Senhora do
Socorro, já no Estado de Sergipe e depois em Rio Largo, uma cidade praiana muito
aconchegante para fazermos um lanche. Estava soprando uma brisa bem agradável,
vinda do mar. Ela abraçou-me pelas costas e falou: “Rui, você é demais!”,
dando-me um beijo no rosto.
Quando passamos em Porto de Galinhas, eu falei:
- Aqui é Porto de Galinhas.
- Vamos ficar aqui, hoje? Que legal!
- Hoje não. É melhor irmos direto pra Recife.
Amanhã eles descarregam o caminhão e, na volta, agente dá uma parada aqui.
- Ah, Tá bom!
Naquela noite o mesmo martírio. Eu não sei se
ela fez de propósito, mas dormiu praticamente em cima de mim, novamente de
calcinha e camiseta, com uma perna na minha cintura, um braço sobre o meu peito
e o rosto juntinho do meu. Fiz um esforço muito grande para controlar os meus
instintos, àquela altura, totalmente primitivos, com a libido explodindo
provocada por aquele corpo rígido colado em mim. O meu lado predador foi o mais
difícil de conter: alegava que ela estava se entregando e eu tinha que
satisfazer a vontade dela.
Ela sonhou novamente e imagino que foi um sonho
muito agradável, porque roçava o rosto no meu e estreitou mais o seu corpo em
mim. Eu sentia o seu coração pulsando muito apressado, enquanto sua mão
acariciava o meu peito. Eu não estava mais aguentando aquela situação, mas fiz
um esforço muito grande para me controlar.
Naquela manhã ela acordou superanimada.
- Estou tão feliz!
- Você sonhou de novo. E parece que estava
gostando muito.
- Acho que me lembro. Sonhei que tinha ganhado
um montão de roupas. Fiquei tão feliz! Eu e a Yasmim experimentamos todas. Pena
que foi só um sonho, porque adoro ganhar roupas. Depois tomamos banho na
banheira. Acho que é porque não tenho tomado banho direito.
- Na banheira com a Yasmim?!! Mas acho que não
aconteceu só isso no sonho.
“ Diz que ela ficou acariciando o seu peito pra
ver oi que ela vai dizer” – falou o meu lado curioso.
- Eu também sonhei com minha vidinha. Estou com
muita saudade dele.
- Quem é sua vidinha? O namorado?
-Não. O João Victor, meu irmãozinho. Ele tem
dois aninhos.
- Você tem um irmão pequeno assim?
- Tenho. Mas eu não estou feliz por causa do
sonho. É porque finalmente vou conhecer Porto de Galinhas.
Saímos de Recife à tarde, no dia seguinte, meu
objetivo era ficar em Porto de Galinhas. Eu havia contratado na empresa, em
Recife, um transporte de carga que deveria pegar em Aracajú e levar para
Vitória, no Espírito Santo.
Como iríamos ficar um dia inteiro, sugeri que
nos hospedássemos num hotelzinho perto da Rodoviária. Logo que entramos no
quarto ela foi logo para o banheiro. Tirou a roupa entrou no Box e abriu a água.
Todas as luzes do apartamento apagaram e ela ficou gritando:
- Rui. Vem cá. Estou com medo. O chuveiro
explodiu.
- A porta está fechada.
- Não. Eu deixei aberta. Está só encostada.
Todos os meus lados ficaram satisfeitos e
ouriçados e esperançosos com a intimidade que ela estava demonstrando.
Eu entrei no banheiro e fui tateando até o Box.
Estava um cheiro terrível de fio queimado. Peguei uma toalha e dei a ela para
se cobrir. Fomos para a sala e ela vestiu-se novamente perto da janela onde
entrava um pouco de luz vinda da rua. Abri a porta do apartamento e chamei o
responsável. Ele nos acomodou em outro apartamento. Ela pediu para eu ficar
dentro do banheiro enquanto ela tomava banho.
- Rui, estou com medo que a luz apague de novo.
Fica aqui comigo.
- Dentro do banheiro?
- É, Rui. Claro que é aqui dentro do banheiro!
Sem essa de ficar cheio de preocupação boba. Eu já dormi contigo, quase nua,
esses dias todos na boleia, vamos dormir na cama hoje e, além disso, você vai
querer me enganar que não olhou quando eu estava fazendo xixi na estrada? Olha
aqui, ó. Já estou pelada, pronto! Agora fica aí.
Todos os meus lados aplaudiram, assoviaram,
esfregaram as mãos e dançaram de felicidade. Já estavam ansiosos para chegar a
hora de dar vazão a tudo que estava represado.
Depois dela eu também tomei um banho e fui para
o quarto. Ela estava deitada na cama, de bruços, mexendo no celular, só de
calcinha e camiseta. Eu perguntei se podia ligar a televisão - o meu lado
predador fez cara feia por causa da pergunta. “Que mancada!!! Queria saber qual
dos idiotas sugeriu isso - e ela respondeu:
- Tem certeza que quer ligar a televisão? Não
tem coisa melhor pra fazer?
“ Está vendo? O que é que eu disse? Não
precisava levar essa pela cara – disse o lado predador.
-É o que eu estou pensando? “Não estou
acreditando!” – Disse o lado predador. Estamos perdendo tempo. Vamos atacar
logo.
- Acende o abajur e desliga a luz pra gente
poder dormir direito.
- Dormir? Eu não estou com sono.
- Você pensou que era o quê? Pensei que você
queria dormir...
“ Depois
dessa eu estou contigo, predador” – disse o lado garanhão.” Está perdendo a
prática. Não é possível.”
- Então tá. Vamos dormir.
- Rui, deixa de se fazer de bobo. Tira logo a
minha roupa.
- A calcinha e a camiseta?
- Claro, não são é só isso que estou vestindo?
Ou você está com medo? Não me quer?
- Claro que quero! Só quero!
“Deixa
comigo. Não se metam” – disse novamente o predador.
- Eu não sou mais virgem. Não fica pensando que
vai ser o primeiro. Eu perdi a virgindade com meu namorado. Acho que também fui
a primeira dele.
- Nem estava pensando nisso.
- Então tira logo a minha roupa, tira.
- Lorraine, eu não trouxe camisinha – lado
preocupado.
- Vem, sem camisinha mesmo. É mais gostoso. Não
tem problema, eu tomo pílula e não vou engravidar.
“ Vamos atacar logo, eu não aguento mais! –
Falou o lado predador.
- Comigo você poderia até fazer sem camisinha,
mas não deve deixar de se prevenir. Vou buscar as que eu tenho no caminhão. Eu
não estou falando só por você. Não costumo fazer sem camisinha porque a gente
nunca sabe se a outra pessoa tem alguma doença que pode ser transmitida na
relação sexual. Só não uso com a Tatiana.
- Você gosta dela?
- Gosto.
- Vocês estão há muito tempo juntos?
- Eu a conheço desde criança. É irmã de uma
ex-namorada minha, ela era criancinha naquela época. Só há uns três anos é que
eu a conheci como mulher, não havia percebido que tinha crescido. Nós nos
aproximamos lá em Cabo Frio numa festa pelo aniversário da filha da Raquel, a
ex-namorada. Ela casou-se com o Silvio, um dos meus colegas de infância e
adolescência. Quer que eu vá pegar a camisinha.
- Se você faz tanta questão já devia ter ido.
Quando eu voltei ela estava teclando no
celular.
- Estava falando com a minha colega. Ela ficou
com água na boca. Agora vem que eu não aguento mais. Você acha que foi fácil
pra mim ficar dormindo todos os dias colada em você, quase pelada, vendo o seu
estado e tendo que me controlar, mesmo cheia de vontade de te pegar e beijar
todo, porque não queria tomar a iniciativa pra você não pensar mal de mim?
- E como você acha que eu estava me sentindo
tentando esconder o meu estado, pelo mesmo motivo?
- Então vamos esquecer isso. Vem. Eu quero ser
sua, finalmente.
Beijou-me enquanto eu levantava a camiseta dela
para cima e beijava cada seio rígido, chio de juventude e beleza e em seguida
retirei, devagar, a calcinha, deslizando-a ao longo das pernas e a deixei sobre
o lençol. Ela pediu para eu tirar a minha, estava de short e camiseta, enquanto
ela observava. Quando fiquei nu, ela puxou-me em direção ao seu corpo e disse:
- Vem. Estou doida pra ser sua, como se fosse
em lua de mel.
Quando estávamos prontos, ela pegou um envelope
de camisinha e cortou a ponta da embalagem com os dentes. Todos os meus lados
estavam prontos e ansiosos para trabalharem em conjunto e dar o melhor de mim.
- Espera, Lorraine. Não põe. A validade está
vencida e eu não uso de jeito nenhum – novamente o lado preocupado, que quase
foi linchado.
- Esta também está vencida. Esta também... Rui
Vamos sem camisinha mesmo - ela disse enquanto deslizava o seu corpo nu pelo
meu.
“ É isso ai, vamos lá! - Disseram os juntos os meus lados garanhão e
predador.
- Lorraine, a camisinha. Estas duas não estão
com o prazo de validade vencido.
- Cara, você é chato... Já estava lá. Não
precisa, já falei!
- Preciso, sim. Deixa eu colocar, então.
- Tá bom, eu boto. Seu chato!
Ela pôs em mim uma das camisinhas e demos vazão
a todo o nosso desejo até então reprimido. A madrugada já ia pelo meio quando
ela caiu no sono.
- Rui você é demais. Dá de mil no meu namorado.
Muito gostoso. Fiquei mole e com muito sono. Hoje eu quero dormir abraçada por
você, de conchinha – disse aconchegando-se, de costas ao meu corpo.
Todos os meus lados cumprimentaram-se pelo excelente
desempenho do conjunto, enquanto eu a envolvia nos meus braços e colava o seu
corpo no meu.
Pela manhã, quando acordei, ela ainda dormia na
mesma posição. Levantei-me e cobri o seu corpo bonito com um lençol. Ela
acordou quando eu estava saindo do banho. Ajoelhou-se na cama e deu-me um beijo
doce, muito doce.
- Rui, o que aconteceria se eu me apaixonasse
por você?
- Acho que você tem que evitar isso.
- Tá. Vou tentar me segurar. Já tomou banho?
- Já.
- Por que não me acordou?
- Você estava dormindo tão bem que eu não quis
te acordar. Agora vai tomar banho pra gente tomar café.
Ela puxou-me para a cama e deitou a cabeça no
meu peito.
- Rui, acho que você é perfeito.
- Talvez eu seja experiente e você não está
acostumada com isso.
- Quantos anos você tem?
- Eu não vou dizer quantos anos eu tenho pra
você ficar imaginando que eu poderia ser seu pai, ou seu tio. Você deve ter uma
ideia.
- Acho que você tem pelo menos o dobro da minha
idade.
- O importante é que a diferença de idade não é
importante enquanto eu sou um homem e você já é uma mulher.
- Ela é muito sortuda.
- Quem?
- A sua mulher. Quer dizer: namorada.
Levantou-se e foi desfilando até ao banheiro,
nua. Um espetáculo. Todos os meus lados ficaram me olhando, enquanto eu a
observava, satisfeito.
- Rui, pega uma toalha pra mim e vamos logo. O
dia está lindo. Estou vendo pela janela. Vou conhecer Porto de Galinhas,
finalmente!
- Tá bom. Vamos realizar o seu sonho.
Quando saímos ela disse:
- A primeira coisa que eu quero ver é a colônia
de corais. Você sabia que aqui em Porto de Galinhas tem uma colônia de corais?
Pois é, a gente tem que tomar cuidado pra não pisar neles e também não devemos
pegar os animais pra levar casa, nem as conchinhas e também as estrelas-do-mar
que vivem no local. Temos que tomar cuidado até quando estivermos nadando pra
não prejudicar o ambiente natural que eles procuram preservar.
Passeamos um pouco pela Cidade que é cheia de
placas, totens de rua e as lojas distribuem souvenires com a imagem da galinha
Filomena, seu simpático símbolo.
Fomos de buggy conhecer a Praia de Muro Alto
conhecer o paredão de areia com coqueiros a perder de vista. Depois à Praia de
Maracaípe e conhecer as piscinas naturais que se formam quando a maré está
baixa e o pessoal aproveita para se esbaldar nas águas mornas, limpas e claras.
Lá tem um aquário gigante, mas ela quis visitar. Preferiu se esbaldar na água,
mas agarrava-se em mim a todo o momento, tentando fugir dos pequenos animais,
porque ficava nervosa quando eles beliscavam a sua perna.
- Ai, Rui. Eu tenho medo. Ouvi dizer que tem um
peixinho que entre pela uretra e pelo ânus das pessoas.
- Deixa de ser boba, Lorraine. O peixe que
entra pela uretra e se aloja no interior dos genitais é o candiru. Ele vive nos
rios da Amazônia, não é no mar. Eles são atraídos pela urina e também só
conseguem entrar se o short ou biquini estiver folgado. Não é o caso do seu, que
é bem justinho, apesar de não tapar quase nada.
-
Mas me dá nervoso eles ficarem pinicando o meu pé.
Depois fomos conhecer os manguezais
onde vivem siris, caranguejos, ostras, aratus e guaiamus. O passeio é feito
numa jangada.
Na Praia do Portal de Maracaípe, ela ficou
interessada em ver o cavalo-marinho, que, segundo informações, está em
extinção. Existe, inclusive, no local, o Projeto Hippocampus, que luta pela
preservação do animal.
“Vamos
ver agora, porque podem ser os últimos” – ela disse.
- Viu, Rui: o macho é que fica grávido. Já
pensou se fosse assim com os homens?
- Para alguns homens iria ser fácil. Tem um
monte deles que adora desfilar mostrando suas barriguinhas e barrigões de
cerveja.
- Sua barriga não é grande. Imagine você
grávido.
- E por onde o bebê iria sair?
- Boa pergunta. Por onde será que os filhotes
do cavalo-marinho saem?
- Vamos perguntar.
A explicação dada pelo pessoal do Projeto
Hippocampus: a fêmea, no momento da cópula, transfere os ovos de sua bolsa
incubadora para a do macho (ele também tem uma bolsa). A fecundação é interna,
pois ocorre dentro da bolsa incubadora do macho, no momento que ele libera o
esperma. Essa bolsa fica na região ventral da cauda. A gestação dura dois
meses, geralmente na primavera. No momento do nascimento, os ovos eclodem
dentro da bolsa. O macho se contorce violentamente para expelir os filhotes, em
média 500 por gestação.
- Viu, sem chance de eu engravidar. A única
bolsa que tenho é justamente onde ficam guardados os órgãos produtores dos meus
bichinhos procriadores.
- Que você faz questão de jogar dentro de outra
bolsa pra não correr o risco de me engravidar.
- Você não esquece da camisinha, não é?
- Eu não gosto, Rui. Eu não te sinto direito.
Além do mais, eu não tenho doença nenhuma e tomo as pílulas. Não precisa se
preocupar.
- Então tá. A gente vai fazer sem camisinha. As
minhas acabaram mesmo.
Voltamos à pousada, tomamos banho e fomos
curtir um pouco a vida noturna da Vila de Todos os Santos, lugar cheio de bares
e restaurantes. Quando voltamos estávamos cansados do dia cheio de atividades.
- Rui, estou tão cansada...
- Eu também.
- Mas foi muito divertido, não foi? Um dia
maravilhoso. Adorei.
- É. Foi muito legal mesmo.
- Vai dizer que ainda vai querer fazer amor?
- Não estava nem pensando nisso.
- Tá bom. Me engana que eu gosto... Eu até
queria você, mas estou muito cansada.
- Vamos deixar pra amanhã. Quando a gente
acordar eu serei todo seu.
- E eu toda sua. Huummm, vou dormir bem
agarradinha com você.
- Vem, então.
- Temos que aproveitar bem a cama e o banheiro.
Já sei que a partir de amanhã vai ser tudo na boleia, mas com você eu não me
importo. Você me deu as melhores férias da minha vida, em todos os sentidos. Te
adoro!
Pela manhã, conforme prometemos, fizemos amor
por um bom tempo, suficiente e de maneira eficiente, sem camisinha, com a
colaboração de todos os meus lados – nesses momentos, eles estão sempre unidos,
cada um fazendo a sua parte, para tornar a relação inesquecível. Aproveitamos
bem a cama e o banheiro, como ela sugeriu.
Tomamos o café da manhã e partimos, já um pouco
tarde. Almoçamos num restaurante na estrada e dormimos em Alagoinhas, na Bahia.
Ela havia visto uma placa na estrada indicando o acesso a Porto Seguro e disse
que também tinha vontade de ir até lá, porque é muito badalada.
- Seria legal passar o dia em Porto Seguro...
- Fica pra próxima. Tenho que trabalhar.
- Prá próxima? Então vou viajar contigo de
novo?
- Quem sabe? Você quer?
- Se quero? Claro! Vou ficar te ligando pra
cobrar. Não vou deixar você esquecer de mim. Não quero ser só mais uma.
- Está disposta a fazer tudo de novo?
- Se tô. Não tô nem aí pra dormir na boleia,
fazer xixi e tomar banho na estrada. Tirei de letra, não foi?
- Tenho que admitir que você me
surpreendeu, em todos os sentidos.
Confesso que fiquei receoso de te trazer comigo por isso.
Fomos a Aracajú para pegar a carga que
contratei levar para Vitória. Chovia muito em Linhares, no Espírito Santo. A
estrada estava muito ruim e com vários trechos alagados e tivemos que ficar
parados por muito tempo. Ela dormiu com a cabeça na minha perna e todos os meus
lados ficaram lhe acariciando, cada um a sua maneira.
- Rui, você tem filhos? - Nem percebi que ela
havia acordado.
- Não.
- E a tua namorada?
- Também não.
- Você não pensa em ter um?
- Às vezes eu fico pensando se não seria o caso
de ter um, mas me lembro do meu casamento. Se tivesse filhos, estaria separado
deles. A Tatiana não falou nada a respeito disso comigo, ainda.
- Me diz o seu número de telefone pra eu gravar
aqui nos meus contatos. Assim eu posso te avisar se estou grávida – levantou e
me deu um selinho.
- Caraca! Nem fala nisso.
- Tô brincando. Também não sou maluca de ter
filho desse jeito. Nem pensar.
- Já fiquei encucado. Não devíamos ter feito
sem camisinha.
- Deixa de ser bobo, Rui. Eu adorei você.
Quando estávamos perto da entrada para Búzios,
ela ligou para a mãe.
“Mãe. Estou aqui em Cabo Frio, na casa da minha
colega. Ela vai voltar pro Rio porque as férias dela acabaram. Liga pro meu tio
e pede pra ele ligar pra mim pra me dizer como chegar à casa dele. Não. Não. Tá
tudo bem. Não se preocupe. Eu só queria dar um tempo. As férias estão sendo
ótimas, melhor não poderia ser. Estou me divertindo muito. Semana que vem eu
estarei aí. Não. Não me fale dele agora. Nem quero saber. Quando eu chegar em
casa a gente conversa. Tá...Tá... Já vai começar? Que saco! Liga pro meu tio.
Beijo.”
- Minha mãe é um saco. Se ela soubesse as
férias que eu tive... Quem sabe eu conto pra ela, um dia.
O celular dela tocou.
“Alô, tio? Eu não sei onde é. Eu vou com a
minha amiga até a Rodoviária. Ela vai voltar pro Rio. Não, não vai agora. Ela
ainda vai tomar banho. Quanto tempo? – Fez sinal para mim, indagando e eu
indiquei duas horas com os dedos. Daqui a duas horas – ela falou pro tio – na
Rodoviária.”
- Rui, estamos muito longe de Cabo Frio?
- Não. Estamos entrando na Cidade. Só fiz sinal
que pra dizer que faltavam duas horas pra gente poder se despedir melhor.
Encostei o caminhão num posto e ela deitou a
cabeça na minha perna e ficou mexendo no celular. De vez em quando ela me dava
um beijo.
- Não vai falar nada? – Perguntei.
- Não tenho nada mais pra falar. Já disse tudo
durante a viagem.
- Está na hora.
Ela sentou-se no meu colo e nos beijamos várias
vezes. Fez selfie de nós dois, com todos os meus lados sorrindo satisfeitos,
abraçados com aquela garota surpreendente. Então, ela abriu o portaluvas, pegou
a foto da Tatiana e escreveu: sortuda.
- Por que está fazendo isso? Estragou a foto.
Se a Tati vir isso vai ficar uma fera.
- É pra ela saber que se largar tem gente
esperando.
- Vamos.
Saimos do caminhão e nos beijamos mais uma vez.
- Aí, Rui. Como eu gosto quando você me pega na
cintura e beija meu pescoço. Tá querendo que eu vá pro Rio contigo, é? Já estou
com saudade. Te amo. Vou ligar pra você.
Afastou-se e antes de atravessar a rua,
voltou-se e deu tchau.