CAUSOS
DA BOLEIA - O QUE OS OLHOS NÃO VEEM O CORAÇÃO... NEM SE FALA
Encontrei as três num posto de gasolina na
Rio-Bahia, próximo a Santa Juliana. O motor do carro delas fundiu, e elas
tinham que chegar a Salvador para uma festa que iria ocorrer no fim do ano.
Eram três amigas de trabalho: Amanda, Eliane e Vânia. O tempo já estava ruim,
chovendo havia vários dias. As estradas estavam em péssimas condições; alguns
trechos, em meia pista, tornando a viagem lenta e perigosa. Quando chegamos
perto de Catuji a estrada estava fechada por causa da queda de uma barreira.
Apesar de o tempo já ter melhorado, a barreira que tinha caído no dia anterior
era muito grande, e havia muitos veículos parados na estrada porque não podiam
seguir viagem. Era uma fila enorme de carros de passeio, caminhões e ônibus
parados, esperando a liberação da estrada. Sem ter o que fazer, ficamos por ali
conversando. Anoiteceu, e a estrada ainda não tinha sido liberada.
Vânia, que aparentava ser a mais velha das
três, disse que estava meio enjoada e perguntou se podia deitar no banco do
caminhão.
Também, não era pra menos, ela e Eliane ficaram
o tempo todo tomando caipiríssima. Eliane era muito brincalhona, não sei se por
conta da bebida ou se era da própria personalidade dela. Era loira, devia ter
uns trinta e dois anos, por aí.
– Vai lá, fique à vontade – eu disse. – Se
quiser tem um lençol na cama da boleia que você pode usar.
Eliane falou:
– Eu também vou deitar, mas bem que você podia
ficar perto de mim, quero deitar na sua cama.
Eu não esperava aquela proposta assim tão
direta de uma mulher, apesar de ter observado que ela era bem espontânea.
Depois, soube que ela era divorciada e muito namoradeira. Pior que eu tinha me
interessado pela Amanda, a mais bonita, justamente a que era casada. Ela ouviu
a proposta da Eliane e sacudiu a cabeça em sinal de desaprovação. Disse que
iria ler um pouco para passar o tempo. Então liguei uma gambiarra e emprestei
uma cadeira de praia que eu tenho no caminhão para ela sentar.
A Eliane me pegou pela mão e me arrastou com ela.
– Vamos logo, aproveitar o friozinho... Já que
não temos o que fazer, vamos namorar... Ou você é um marido fiel? A sua mulher
não precisa saber de nada – ela disse.
– Nem sou casado. Já fui. Agora, sou divorciado
e livre – respondi.
Fizemos amor, eu e Eliane, na minha cama, na boleia.
Ela disse que estava cheia de tesão e queria mais era aproveitar a viagem e que
já que eu estava ali, disponível, e que não era de se dispensar, nada seria
melhor do que unir o útil ao agradável.
Vânia estava dormindo no banco do caminhão e
nem sei se ela percebeu a nossa transa. Eliane logo adormeceu também e eu saí
para ver como estavam as coisas lá fora. Aparentemente, estava tudo na mesma.
Amanda ainda estava lendo o livro, era um desses de autoajuda. Quando me
aproximei, ela fechou o livro e se espreguiçou.
– Até que enfim alguém acordado – ela disse.
–Estava difícil de ler com essa lâmpada ligada na bateria, ainda mais com esses
mosquitinhos perturbando.
Perguntou se Vânia e Eliane estavam dormindo e eu
disse que sim. Eliane na minha cama e Vânia no banco. Para minha surpresa, ela
falou:
– Bem que eu queria ter a ousadia da Eliane. Na
realidade, bem que eu gostaria de estar no lugar dela agora, estou até com um
pouquinho de ciúme, apesar de não ter coragem de trair o meu marido, embora não
saiba o que ele anda fazendo.
“Mais uma!”– eu pensei. – “Será que eu sou tão atraente
assim ou as mulheres ficaram muito ousadas e estão todas a perigo?”
Ela continuou:
– Nós brigamos, e ele logo em seguida viajou pra
Brasília, a trabalho, pra Brasília. Há mais de um mês que a gente não se vê.
Ele só me ligou uma vez, pra saber se estava tudo bem. Acho que o nosso
casamento está no fim. Pra falar a verdade, às vezes, eu até prefiro assim.
Estou me acostumando a ficar sozinha, apesar de que não sinto falta dele e, às
vezes, até gosto. Eu não me dou com a minha sogra e ele faz tudo o que ela
quer. Ela vive se metendo na nossa vida, e a minha paciência já se esgotou. Por
isso eu aceitei o convite da Eliane para passar o final do ano em Salvador.
Ouvi você dizer pra ela que é divorciado... Você não pretende ter outra mulher?
Você tem namorada?
– Não, estou muito bem na situação de
descasado. Eu tenho uma namorada. Pra falar a verdade, nem sei se posso
considerar assim. Ela mora lá em Alto Paraíso, em Rondônia, o nome dela é
Paloma, mas só estive com ela uma vez, ainda não deu pra voltar lá pra saber se
realmente é minha namorada ou não. De vez em quando, a gente se fala pelo
telefone. Só o tempo vai dizer.
Preferi não mencionar a Mary, a Paixão e a
Juliana por motivos óbvios.
Ficamos conversando até tarde sobre esses
assuntos de casamento. Ela falou o tempo todo sobre a relação dela com o marido
e a sogra. Fiz café, e comemos sanduíches. Então, começamos a ficar com sono, e
como Vânia e Eliane estavam dormindo na boleia e a noite estava bonita, com uma
lua cheia bem grande, nós fomos para cima da carroceria e deitamos na lona.
Ficamos observando as estrelas. Então, ela falou:
– Sabe de uma coisa? Depois que eu casei, nunca
fiquei assim sozinha com um homem no meio do nada. A gente aqui em cima... Eu
não estou aguentando a proximidade contigo. Não sei o que você tem que me atrai
muito... Acho que é a simplicidade... me dá um beijo... Ninguém vai saber
mesmo. Também não sei se o meu marido sai com outras mulheres, mas deve sair.
Você me quer?
Eu não falei nada. Era tudo o que eu pretendia
naquela hora. Atraquei naquela mulher bonita e fizemos amor com todas as
estrelas e a lua nos observando. Não sei se ela percebeu que eu tinha transado
com a Eliane antes dela. Pelo menos deu para confirmar que as mulheres são
mesmo diferentes em tudo; o corpo, a maneira de conversar e de lidar com o
sexo... enfim, são todas diferentes.
Acordei sobressaltado com o sol
batendo no meu rosto. Estava uma confusão terrível! Tinham avisado que a
estrada havia sido liberada. Os caminhões e carros ligando os motores e tocando
buzinas... Uma confusão geral. Pelados em cima do caminhão, tivemos que vestir
as roupas embaixo do lençol para ninguém ver. Demos o último beijo e descemos
da carroceria. Entramos no caminhão e seguimos a viagem.
Quando chegamos a Salvador, nos
despedimos e eu tirei uma foto com elas três juntas e de cada uma em separado
para estrear o meu celular novo. Depois eu apaguei as da Eliane e as da Vânia.
A Amanda já tinha anotado o meu número. Disse que ia me ligar quando voltasse
para Minas, assim que retornasse da viagem, para saber onde eu estaria. Ela
queria me conhecer melhor...
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