CAUSOS DA BOLEIA - MAIS VALE UM NA MÃO DO QUE DOIS NO SUTIÃ
Eu tinha
terminado de almoçar e, depois de descansar um pouquinho, estava me preparando para
continuar a viagem. Quando subi na boleia, encontrei uma garota sentada no
banco do meu caminhão. Olhei pra ela espantado e disse:
-Olá moça, acho que você está no
caminhão errado, este aqui é o meu.
- Eu sei. Melhor,
até agora não sabia que era seu. Eu não tenho caminhão e nem estava em outro. Sentei
aqui pra pedir uma carona quando o dono voltasse e agora que o senhor voltou...
Me dá uma carona?
- Você vai pra onde? – Eu
perguntei.
- Pra casa da minha mãe.
- Que mal lhe pergunte... Onde é
a casa da sua mãe?
- Lá em Bagé, no Sul.
- Mas eu não
estou indo pra Bagé, moça... eu vou pra Bahia. Acho melhor procurar outro meio
de chegar na casa da sua mãe.
- Então me
deixa em Salvador, no meio do caminho, mas me leva embora logo daqui. A minha
patroa me mandou embora e disse pra sumir, senão eu vou me arrepender de ter
nascido.
- Pera lá! Não quero me meter em
confusão!
- Pode deixar, eu explico no
caminho se o senhor me levar.
- Então tá. Pode ficar, mas se
der rolo eu te largo no meio da estrada.
- Que legal!
Bem que eu achei, quando escolhi esse caminhão, que tinha cara que o dono é um
bom sujeito. Não é que eu acertei!
-É, eu acho
que sou um bom sujeito sim. Já me arrependi de ter dado carona pra umas
pessoas, mas pra outras foi bem gratificante - Lembrei da Diana, uma mulher
bonita que estava com duas crianças fugindo do marido. Também foi para a casa
da mãe dela.
- O meu nome é Rui Barbosa, mas
pode me chamar só de Rui.
- E o meu é Raquel, mas pode me
chamar só de Flor.
- Flor?
- É. Só flor!
- Por que flor?
- Era como me
chamavam lá na fazenda desde pequena. Diziam que eu tenho um perfume especial,
só meu, e estou sempre alegre e bonita como uma flor.
- Você tem ideia
do que é a vida de caminhoneiro? – Perguntei. Eu durmo aqui na minha caminha –
fiz sinal indicando o compartimento atrás do banco –, tomo banho em banheiro de
posto de gasolina... Só de vez em quando dou sorte de encontrar uma
cachoeirinha. Entre uma parada e outra é muita solidão, por isso eu gosto de
dar carona, embora saiba que muitas vezes é muito arriscado. Felizmente nunca
aconteceu nada de grave comigo.
- Eu nunca saí
daqui desse lugar. A dona Gisele me deu um dinheirinho em compensação pelo
tempo que eu fiquei lá na fazenda. Quero aproveitar um pouco, conhecer muita
coisa bonita que tem por esse mundão de Brasil. Eu via na televisão e me dava
uma vontade danada de conhecer esses lugares todos. Agora eu vou ver um
pouquinho.
- A viagem é
longa, por isso é bom ter companhia, principalmente de uma moça bonita. É meio
constrangedor, mas se você não se importa agente supera.
- Não se
aperreie não, homem. Eu sou livre e agora quero aproveitar antes de pensar o
que vou fazer da vida.
- Você trabalhou
na fazenda desde pequena? Como você foi parar lá se os seus pais moram em Bagé?
– Eu perguntei.
- Eu sempre
morei lá, nasci e me criei. Meus pais eram empregados dos pais da dona Gisele.
Os pais dela já morreram. Meu pai cuidava dos cavalos, mas eles deixaram de
criar esses animais, então ele foi trabalhar em outra fazenda lá em Bagé e
minha mãe foi junto com ele. Eu devia ter uns dezesseis anos, agora estou com
vinte e seis. Fiquei trabalhando na casa a dona Berenice, a mãe da dona Gisele.
Ela disse pra minha mãe não se preocupar porque eu ia ficar bem e que eu
poderia ir morar com eles quando estivessem se ajeitado. Desde então, só converso
com minha mãe por cartas. Só no dia do meu aniversário que ela sempre fala
comigo pelo telefone.
- Então porque a sua patroa te
mandou embora da fazenda assim, de repente?
- Porque ela
me pegou na cama com o Tiago, um rapaz que é sobrinho do seu Leonardo, o marido
dela. Mas eu sei que ela ficou com raiva porque está “caída” por ele. Eu bem
via o modo que ela trata ele. Várias vezes eu vi ela entrar no quarto dele na hora que ele ia tomar banho e estava sem
roupa, fingindo que queria saber se ele estava
precisando de alguma coisa. Trata ele com muito carinho. Não sei como o seu
Leonardo não desconfia. Eu sei que foi por raiva de eu ter deitado com o queridinho
dela que ela fez isso comigo. Ficou cheia de ciúmes.
- Ela também
mora na fazenda?
- Quem? O
Tiago?
- É.
- Não. Só nas
férias que ele vai pra lá. Ela fica toda feliz quando ele chega. Cheia de fogo.
- Mas o marido
dela não mora lá?
- Ela
aproveita quando ele não está, durante o dia. A fazenda é muito grande e ele só
vai a casa pra almoçar e depois só volta à noitinha. Se ela fez isso comigo por
causa do Tiago, imagine se ela soubesse que foi o seu Leonardo quem tirou a
minha virgindade... Ela deve pensar que foi o Julinho.
- Mas o nome
dele não é Tiago?
- Não. O Julinho
é filho da dona Gisele. Deixa eu contar: Uma vez, ela viajou e ficou mais de um
mês fora. Ele foi ao meu quarto numa noite pra dizer que o lençol da cama dele
estava sujo e pediu pra eu trocar...
- O Julinho?
- Não. O seu Leonardo,
o marido dela. Depois que eu troquei o lençol ele me agradeceu, coisa que ele
nunca fez, e pegou minha mão e falou: “Eu não tinha reparado que você cresceu e
se tornou uma mulher tão bonita, Flor” - eu estava só de camisola. Ele passou
as mãos nos meus cabelos - estava tremendo. “Eu estou sentindo falta de mulher”
- ele disse botando as mãos nos meus peitos e apertando. Eu tinha dezessete
anos e nunca tinha sido tocada por uma mão que não fosse a minha. Meus peitos
ficaram duros que até doíam e eu fiquei toda arrepiada. Ai ele tirou a minha
roupa, me deitou na cama e me beijou o corpo todo - bem que eu não vi nenhuma
sujeira no lençol, ele queria mesmo era se deitar comigo, se aproveitar. Depois
ele tirou a roupa dele, muito apressado, parecia que não estava aguentando
mais. Mas só apagou a luz depois que estava nu. Acho que foi de propósito pra
eu ver aquele negócio enorme e duro. Eu até me assustei, nunca tinha visto um
de homem daquele jeito parecia um pedaço de toco, eu só tinha visto do Julinho
quando ele não tomava banho sozinho e dos bichos da fazenda. Ele deitou em cima
de mim e eu senti aquele negócio entre as minhas pernas, querendo entrar em
mim. Ele parecia que estava desesperado, mas eu não sei o que ele fez que não
doeu, só ardeu um pouquinho. Logo eu senti ele todo aqui dentro, mas não
demorou muito... você sabe o que aconteceu...
Eu já estava
ficando excitado, melhor, já estava. “Por que essa garota está me contando o
caso com tantos detalhes?” – Pensei.
- Flor, vamos
parar daqui a pouco pra almoçar...
- Acho bom,
porque eu estou com fome e também preciso ir ao banheiro... Depois que ele acabou
– continuou a contar, para meu desespero -, mandou eu ir pro meu quarto. No dia
seguinte me chamou e me levou na cidade pra me consultar com um médico de
mulher. Ele não disse pra ninguém que me levou ao médico, falou que era pra
fazer umas compras pra cozinha. Depois disso ele sempre comprava as pílulas pra
eu tomar, e enquanto a mulher dele estava viajando, toda noite me levava pro
quarto dele. Depois que ela voltou ele de vez em quando dava um jeito de ir no
meu quarto escondido, de manhã bem cedo, enquanto a dona Gisele estava dormindo.
Ele dizia que com a dona Gisele não é a mesma coisa. Depois eu me acostumei e
até gostava, porque cada vez que ele me procurava me dava um presentinho. Foi
depois disso que eu comecei a me insinuar pro Julinho, o coitado ficava
escondido se satisfazendo com a mão, então eu resolvi fazer com ele o que o pai
dele fez comigo, só que disso acho que todos sabiam, aceitavam e ficavam
satisfeitos. Agora por causa do ciúme dela, quando eles descobrirem que a
mulher deles foi embora nem sei como vai ser. Ela sabe que eu ensinei essas
coisas de sexo pro filho dela desde que ele tinha quinze anos, agora ele tem
dezoito. Eu sei que ela até gostava disso. Sabia que ele sempre ia pro meu
quarto e se fazia de desentendida. Quando os parentes dela iam visitar a
fazenda e conversavam sobre as moças e rapazes da família, ela sempre dizia que
ali na fazenda o filho dela não corria os mesmos riscos que os primos na cidade
e não tem medo de que ele não seja homem de verdade. Aliás, dizia disso ela
tinha certeza. Eu é que posso dizer, eu ensinei tudo com muito carinho pro
Julinho. Claro que também aproveitei bastante como professora - olhou para mim de rabo de olho, com um
sorriso maroto. Pronto, está aí a minha história!
O que você me diz? – Ela perguntou.
- Eu digo que vamos parar pra
almoçar porque estou cheio de fome. - respondi.
Enquanto ela
estava no banheiro e fiquei sentado num banquinho junto ao balcão pensando como
uma garota do interior que sempre viveu numa fazenda tem a ousadia de me contar
a sua história daquela forma, em detalhes, sem pudor algum. Coincidentemente,
eu tinha lido um artigo no jornal, que ainda estava lá jogado no painel, enquanto
tomava café naquela manhã, sobre a peça Don Juan de Molière cujo texto diz o
seguinte: “ Desfrutamos de um prazer extremo ao eliminar o inocente pudor de
uma bela jovem que reluta em se entregar, ao forçar aos pouquinhos todas as
pequenas resistências que ela opõe, a superar seus escrúpulos e chegar onde queremos.”
“Eu não sei por que desde o
início da história o homem acha que tem esse poder de dominar as mulheres e
usá-las como se elas só existissem pra satisfazer os seus desejos e instintos e
ainda se vangloriam disso. Mas as mulheres estão mudando isso e os homens não
estão percebendo” – Eu pensei.
Depois do
almoço, novamente na estrada, ela tirou um cochilo e eu pude observá-la melhor.
É realmente bonita a danada. Ela tem um corpo daqueles de deixar qualquer um
doido. Os cabelos encaracolados caindo nos ombros... muito bonita mesmo, não é
a toa que tenha sido protagonista de toda a novela que ela me contou.
Chegamos a Salvador à noitinha.
- Pronto, chegamos! Aí está
Salvador! - Eu disse.
Ela espreguiçou-
se, esticando os braços e as pernas - tinha dormido encolhida no banco -, bocejou e pediu desculpas com um sorrisinho
matreiro.
- Posso ficar
por aqui, seguir contigo mais um pouco? Eu estou gostando da viagem – ela
disse.
Naquela
altura, eu, no fundo, bem que gostaria da companhia dela, por isso nem pensei
duas vezes, aceitei de imediato.
- Se você
quiser pode ficar. Pra mim vai ser até bom - não queria demonstrar muito
entusiasmo. Tem um problema: como a gente vai fazer pra dormir? Eu normalmente
encosto o caminhão num posto de gasolina e durmo aí na minha caminha atrás do
banco. Na estrada, o meu caminhão é a minha casa.
- E você nem
imagina que eu vou dormir aqui mesmo contigo!? Isto é, se você quiser... Sou
muito atrevida, né? Nem perguntei se você tem mulher, se é casado, e venho logo
me oferecendo... Não pensa besteira de mim não, mas é que você foi tão legal
comigo...
- Eu não sou
casado. Já fui. Sou divorciado. O casamento não deu certo por causa das minhas
viagens. Eu estou cheio de fome! Vamos tomar banho e comer alguma coisa que
amanhã é outro dia.
Ela deu um
sorriso maroto, cheio de alegria e me deu um beijo no rosto. Depois de
jantarmos, ficamos assistindo televisão no restaurante do posto - ela disse que
queria ver a novela. Depois fomos pro caminhão e ficamos conversando até mais
ou menos dez horas. Foi a minha vez de falar sobre mim e o que acontece comigo
na viagens,. até que resolvemos dormir.
Eu deitei na
minha cama e ela olhou pra mim, como se perguntasse se eu consentia. Nem
precisou falar, eu abri espaço na cama e ela deitou ao meu lado. O
compartimento é pequeno e tivemos que ficar bem juntinhos. Não demorou a gente
já estava se pegando. Há quanto tempo eu não passava uma noite como aquela. A
mulher é realmente uma beleza, o corpo duro e perfumado. Então eu confirmei o porquê
do apelido. Ela é muito dengosa e carinhosa e parece que eu correspondi às
expectativas dela.
Acordamos pela
manhã, como calor do sol esquentando a cabine do caminhão. Fomos tomar café para
depois seguir a viagem. Eu demorei mais de uma semana para voltar para o Rio. A
Raquel, melhor, a Flor, ficou comigo todo esse tempo. Eu gostei dela e ela
também se agradou de mim e a gente ficou namorando. Ela veio para o Rio comigo
e ficou morando no meu apartamento mais ou menos umas duas semanas.
Eu precisava trabalhar e não dava
para ficar com ela o tempo todo junto comigo. Uma amiga minha, do tempo que eu
era casado, estava precisando de uma pessoa para fazer companhia para a mãe
dela que estava doente, então eu indiquei a Raquel e ela ficou morando na casa
da minha amiga. Quando eu voltava para o Rio a gente se encontrava. Ela pediu
para ficar morando comigo de novo, inclusive me acompanhar nas viagens, mas eu
disse que não dava certo esse negócio de mulher o tempo todo junto e se ela
fosse morar comigo e não viajasse iria acabar acontecendo a mesma coisa que
aconteceu com o meu casamento, então era melhor a gente continuar do jeito que
estava. Depois de algum tempo ela foi para o Sul e nunca mais a vi, embora ela
ligue para mim de vez em quando.
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