segunda-feira, 11 de abril de 2011

O PEDIDO DE PERDÃO


O PEDIDO DE PERDÃO

Desde que começaram o namoro, Arnaldo e Zuleika (embora cearense, seus avós eram poloneses, por isso o nome escrito com a letra k, não com c) tinham a vida sexual bastante ativa. Ela era uma daquelas pessoas classificadas como ninfomaníacas. O furor uterino de Zuleika obrigava o pobre rapaz a se empenhar ao máximo para não deixar a peteca cair. Em certas ocasiões, em face das questões hormonais que envolvem o ciclo menstrual, ela exigia muito dele pela manhã e à noite, quando dava. Arnaldo já estava ficando esgotado e a Zuleika sempre querendo mais. Chegou a comentar com ele, em tom de brincadeira, é claro, como afirmou, que se ele jogasse a toalha, se não desse conta do recado, ela teria que arranjar um amante para atender às suas necessidades ou melhor dar cabo do seu fogo.
Com o passar do tempo, Arnaldo notou, com alívio, mas sem deixar de se preocupar, que a fome da Zuleika acalmou um pouco, apesar de ele ainda ter de fazer amor quase todos os dias. Às vezes, para sua surpresa, ela dormia sem exigir dele qualquer providência.
Arnaldo, então, considerando a ameaça que ela, brincando, lhe fez, começou a ficar encucado. “Será que a Zuleika está me traindo?” - Pensava lá com seus botões.
A partir daí, a desconfiança passou a lhe fazer companhia, encarregando-se de lembrá-lo a todo momento daquela possibilidade.
Desconfiava de todos os rapazes que moravam no prédio, principalmente dos que ainda não trabalhavam, tinham mais tempo disponível durante o dia enquanto ele estava trabalhando. Aquela aflição já estava comprometendo o seu desempenho no relacionamento sexual com a esposa. Quando estavam na cama se acariciando, começava a notar uma certa relutância em se excitar, vinham-lhe à cabeça todos aqueles pensamentos que fizeram construir a sua suspeita, como a sua mulher fazendo sexo com o loirinho do 402, com grandão do 607, cada dia um, aí o Arnaldo broxava. Não encontrava explicação para dar à Zuleika, que já estava achando que ele tinha perdido o interesse por ela. Tinha que encontrar um jeito de lhe dizer o que o estava atormentando.
A situação estava consumindo o coitado do Arnaldo, que em função das suas elaborações mentais já tinha perdido o tesão. Ela insistia, insistia, fazia tudo para excitar o Arnaldo. Ele, às vezes, até que tentava, na esperança de que tivesse enganado a respeito dela, mas a peça principal não funcionava. Pediu que ele fosse ao médico, perguntava se ele tinha enjoado dela, mas tinha certeza que era disfunção orgânica provocada por estresse. “Foi assim tão de repente!” Ela dizia.
O que ele poderia fazer? Ele só desconfiava, não tinha nenhuma evidência de traição, nenhum vestígio, só a maldita desconfiança provocada pela diminuição da euforia sexual da Zuleika.
Um dia, na certeza de resolver a situação, explicando para ela o que estava acontecendo, saiu mais cedo do trabalho e foi para casa. Assim que chegou, ouviu gemidos dentro do quarto e não suportando a constatação do que desconfiava, foi à escrivaninha do escritório, pegou o revolver e invadiu precipitadamente o quarto, despejando todo o conteúdo da arma sobre a estupefata mulher, que ainda tentou se levantar, assustada, os olhos apavorados, em agonia, mas não teve tempo.
Em estertor, balbuciou: “Por quê? Eu te amo tanto!“
Caiu definitivamente sobre a cama, morta. Só, então, Arnaldo percebeu a televisão ligada exibindo um filme em que um casal estava fazendo sexo, era um filme erótico.
Olhou para o corpo sem vida da sua Zuleika, nua, e viu um vibrador introduzido na vagina. Retirou-o devagar, cego pelo pranto. Tomou o cuidado de desligá-lo, aquela vibração era inoportuna. Na base do aparelho estava escrito com caneta esferográfica: “Arnaldo, meu eterno amor”.
Abraçou-se à mulher amada. Beijou-lhe todo o corpo e percebeu que estava em estado de firme ereção, de jeito que só a Zuleika o deixava nos bons tempos, como num silencioso pedido de perdão...Então fez amor com ela pela última vez.

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