sexta-feira, 8 de abril de 2011

PÉROLA


PÉROLA
Pérola não é o seu nome verdadeiro, é certo, mas era assim que lhe apresentaram e por esse nome sugestivo Osvaldo a chamava desde que se conheceram na casa da dona Cremilda. Era uma vizinha que lhe frequentava a casa como se fosse uma espécie de sobrinha.
Chamavam-na de Pérola, talvez pelos seus olhos azuis, límpidos, quase transparentes, talvez pelo seu comportamento dócil e carinhoso. Aquele aperto de mão suave e o olhar fixo no dele conquistaram Osvaldo definitivamente.
Passou a frequentar mais vezes a casa da dona Cremilda, que tinha agora um atrativo especial, a cobiçada Pérola que ao que parece pelo mesmo motivo lá aparecia mais amiúde, ora para apertar um vestidinho ora para pedir opinião sobre alguma coisa, a maioria das vezes só queria um dedinho de prosa. De vez em quando seus olhares se encontravam ou se roçavam numa proximidade premeditada, então, Osvaldo reparou que o interesse não era só dele.
Dona Cremilda, que já tinha percebido a intenção dos dois, volta e meia tocava em assunto de namoro e a pretendida Pérola do Osvaldo ficava tão vermelha que parecia um rubi. Então, a esperta senhora dava um jeito de sair da sala para dar um empurrãozinho no acaso.
Logo os pombinhos estavam namorando, e a dona Cremilda, travestida de cupido, se encarregou de dar a notícia para a madrinha da moça, sua vizinha, com quem ela morava desde que veio para o Rio para fazer o curso normal. Tomou, lógico, o cuidado de caprichar no “curriculum” do Osvaldo, prevendo o futuro que aquele bom rapaz estava alinhavando, apesar de já ter passado dos trinta. A Pérola estava com vinte, mas é melhor assim do que ficar por aí com esses jovens que não querem saber de casamento.
Daí para ela se mudar para o apartamento que ele tinha alugado foi um passo. Tudo com o consentimento da madrinha, que mandou logo avisar à mãe da moça, lá no interior de Minas, dizendo-lhe que ficasse satisfeita, pois a filha tinha tirado a sorte grande. Conhecia o noivo, bom moço, desses que já não se vê hoje em dia e logo viriam os netos, com a graça divina.
Assim, seguia Osvaldo feliz da vida. Viviam agarrados o tempo todo, carne e unha, ostra e pérola. O homem começou até a chegar atrasado ao serviço era difícil sair da cama com toda aquela paixão.
Um dia, Pérola disse que recebeu um telefonema de parentes lá da cidade onde morava sua mãe, sobre a doença de uma tia e, com o coração partido teria que deixar o seu bem-amado por uns dias, mas que a distância só iria comprovar o sentimento tão profundo de amor que os unia. Deram o último longo beijo, à porta do ônibus na Rodoviária, e partiu. Osvaldo, então, se deu conta que pouco sabia a respeito da família da mulher que amava. Quando ela voltasse, e a tivesse novamente em seus braços, no aconchego do seu ninho de amor, iria querer saber tudo sobre a sua família, amigos, o lugar onde morava, etc.
Assim que chegou ao seu destino, Pérola telefonou para ele dizendo-se cheia de saudade. Voltou a ligar no dia seguinte e no outro também. Mas as ligações começaram a rarear sob várias alegações, ora porque estava cansada ora estava muito atarefada cuidando da doente. Osvaldo foi ficando triste com a ausência da sua preciosa Pérola. Não via a hora de ela voltar, andava desanimado, sem vontade de sair ou trabalhar, uma ostra sem pérola. Refugiava-se, às vezes, à casa da dona Cremilda, que ficava penalizada. Ela mesma não sabia o que dizer, ficava torcendo, rezando para que tudo voltasse a ser como era antes. Era lindo ver aquele casal tão apaixonado, tinha que acender uma vela pra Nossa Senhora em favor dos dois.
No dia do seu aniversário, Osvaldo chegou eufórico em casa depois do trabalho. Alguma coisa estava lhe dizendo que iria ter uma surpresa, talvez a Pérola telefonasse dizendo que já estava voltando. Achava que era isso, sexto sentido. Entrou em casa correndo e foi direto para o quarto. Abriu a janela para a lua entrar, junto com o frescor da noite e o perfume do jasmim. Lembrou-se de uma coisa que tinha esquecido. “Como não tive essa ideia antes?” Pensou. Então, saiu de casa, foi à padaria da esquina e comprou uma caixa de bombons, daqueles que ela mais gostava, e foi deixá-la no guarda--roupa. Ela iria ficar radiante, adorava bombons. Então, o seu mundo ruiu, o armário estava vazio. Correu ao banheiro, não estavam lá na prateleira os seus perfumes. Foi então que ele viu, de volta ao quarto, jogada sobre a cama, justamente no lado em que ela costumava dormir, uma calcinha de renda vermelha, toda enrodilhada como se tivesse sido retirada escorregando pelas pernas, e ali deixada como uma lembrança de última hora.

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